Funcionários da fábrica Calçados Pegada, localizada na cidade de Castro Alves, no Recôncavo Baiano, denunciam que são expostos a trabalhar com produtos químicos sem proteção adequada. Ao Aratu On, os empregados, que preferem não se identificar, relataram que são disponibilizados, por parte da empresa, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) errados, "colocando a vida de muitas pessoas em risco". Ainda de acordo com os trabalhadores, os líderes da empresa "fazem pouco caso", e até os jovens aprendizes da companhia precisam lidar com produtos químicos com proteção irregular.

Foto: Leitor/Aratu On
Um dos materiais manejados pelos funcionários sem a devida proteção é um primer halogenante para calçados, fornecido pela Killing S.A. Tintas e Adesivos. O produto é usado para limpar e preparar superfícies para colagem de componentes em calçados e outros objetos.
Na ficha de informações de segurança da fabricante há um alerta de perigo: o mau uso do artefato, classificado como um líquido altamente inflamável, pode causar "lesões oculares graves" e "irritação ocular", "toxicidade para órgãos-alvo específicos", e "perigo ao ambiente aquático", além de poder provocar sonolência ou vertigem.

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O Aratu On também teve acesso à ficha de segurança do "promotor de adesão para EVA", utilizado na Calçados Pegada, que serve para melhorar a adesão em superfícies de EVA, plásticos e borrachas. Ele também é fornecido pela Killing S.A. Tintas e Adesivos. No documento, são apontados os seguintes riscos à saúde: corrosão ou irritação à pele, lesões oculares graves e irritação ocular, toxicidade dérmica aguda, toxicidade para órgãos-alvo específicos e sensibilização à pele.
Além disso, o produto, que também é "altamente inflamável", é cronicamente "perigoso ao ambiente aquático".

Informações sobre o
Para manusear os produtos citados acima, segundo a ficha de segurança elaborada pela Killing S.A. Tintas e Adesivos, é necessário usar luvas de proteção, roupa de proteção, proteção ocular e proteção facial.
Mas, mesmo trabalhando com materiais nocivos à saúde e inflamáveis, os empregados, segundo relatos e imagens enviadas pelos denunciantes, usam apenas luva e máscara cirúrgica, responsáveis por evitar a contaminação da boca e do nariz por gotículas respiratórias. Além da máscara não ser suficiente para executar o serviço de risco, o equipamento deveria ser trocado todos os dias - mas, como contam os colaboradores, eles só recebem uma nova duas vezes por semana.

O correto é trocar a máscara todos os dias. | Foto: Leitor/Aratu On
A situação foi denunciada em fevereiro deste ano ao Técnico de Segurança da empresa, que não resolveu o problema, como disse um operário: "Nada foi feito, é sempre a mesma coisa. Disse que a máscara é essa e pronto".
"A algumas pessoas eles dão máscaras melhores e outros EPIs, como óculos. Mas, a maioria das pessoas está trabalhando de forma irregular. Bem poucas pessoas ganham equipamentos próprios para isso [o trabalho]. Se você não reivindicar ou se o funcionário não for lá buscar, eles não dão. Acham que essa máscara é suficiente", detalhou.
O Aratu On entrou em contato com a Calçados Pegada e questionou a posição da empresa frente à denúncia, mas, até a publicação desta matéria, não recebeu resposta. O material será atualizado assim que houver retorno.

Foto: Leitor/Aratu On
Essa não é a primeira vez que funcionários denunciam a Calçados Pegada. Em maio do ano passado, um grupo de trabalhadores fez um protesto em frente à fábrica, em Castro Alves, por conta de desacordos salariais.
Na época, a mobilização foi apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Calçados (Sintracal).

Em maio do ano passado, um grupo de trabalhadores fez um protesto em frente à fábrica. | Foto: Blog do Valente
O uso de Equipamentos de Proteção Individual é obrigatório quando há riscos à saúde e segurança no ambiente de trabalho. A obrigatoriedade é definida pela Norma Regulamentadora nº 6 (NR-6) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em portaria publicada em 1983.
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