A outrora exótica febre oropouche passou a fazer parte do vocabulário e hospitais da Bahia em 2024. Já são mais de 800 casos no ano, com duas fatalidades. Mas o que assusta é outro dado: todas as mortes pela doença confirmadas em todo o mundo ocorreram em solo baiano.
Até o momento, a maior predominância do vírus oropouche é no Sul do estado. Foi lá que ocorrou as mortes mapeadas, nas cidades de Valença e Camamu.
A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) já trata a doença como surto - terminologia utilizada quando há o aumento repentino do número de infectados em uma região específica.
O virologista Gubio Soares explica que a febre oropouche foi detectada pela primeira vez no estado em 2020 por uma pesquisa da qual fez parte. Já a prevalência da doença no Sul da Bahia pode ser explicada pelo caráter turístico da região.
"Muitas pessoas viajam para a Bahia, especialmente esta região, que possui belas praias e atrai turistas. Alguns destes visitantes, provavelmente, trouxeram o vírus oropouche", teoriza o especialista.
De acordo com a Sesab, o primeiro óbito confirmado foi de uma mulher sem comorbidades, com 21 anos de idade, em 27 de março. A vítima era moradora do município de Valença.
A segunda morte confirmada também foi de uma uma mulher sem registro de comorbidades. A moradora de Camamu tinha 24 anos e faleceu em Itabuna, também no sul da Bahia, em 10 de maio.
A febre é espalhada através do mosquito maruim, com processo similar à dengue com o aedes aegypti. Com isso, um maruim que já vivia na Bahia deve ter picado um turista infectado e passou a contaminar outras pessoas.
A boa notícia, ainda de acordo com Gubio Soares, é que não há indicativos de que o vírus tenha mutado ou agido de forma mais intensa na Bahia. As mortes ocorridas no estado são coincidência ou subnotificação em outros locais.
"Esse vírus já circula há muitos anos na região norte, e nunca teve morte, já no Caribe ele está presente há muitos anos. Mas foi por acaso que aconteceram essas mortes, infelizmente, justo aqui na Bahia", lamenta.
Outros estados como Santa Catarina e Maranhão já tiveram mortes investigadas, posteriormente descartadas. Há também suspeita de ligação de outros quatro casos de gravidez interrompida e dois bebês com microcefalia - estes na Bahia, Pernambuco e Acre.
Cuidados
As pacientes que morreram por febre oropuche apresentaram sintomas como febre, dor de cabeça, dor retro-orbital (na parte mais profunda do olho), mialgia (dor muscular), náuseas, vômitos, diarreia, dores em membros inferiores e fraqueza. Ambas evoluíram com sinais mais graves como: manchas vermelhas e roxas pelo corpo, sangramento nasal, gengival e vaginal, sonolência e vômito com hipotensão, sangramento grave, e apresentaram queda abrupta de hemoglobina e plaquetas no sangue.
“É muito importante buscar ajuda médica para realizar o diagnóstico preciso. Ainda que a febre oropouche não tenha tratamento específico, é preciso realizar o diagnóstico precoce para evitar complicações, principalmente óbitos”, ressalta o infectologista Guilherme Furtado.
Os sintomas se assemelham aos de doenças transmitidas pelo aedes-aegypti (dengue, zika e chikungunya), mas os mosquitos são totalmente diferentes. O maruim se reproduz em lixos, especialmente os orgânicos.
"Ele adoram material orgânico, úmido. Se há um acúmulo de lixo com as chuvas, aquele material podre vai facilitar a reprodução desse mosquito", explica Gubio Soares.
"Ele adoram material orgânico, úmido. Se há um acúmulo de lixo com as chuvas, aquele material podre vai facilitar a reprodução desse mosquito", explica Gubio Soares.
Os sintomas duram cerca de 2 a 7 dias. Mas, até 60% dos pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas, após 1 a 2 semanas a partir das manifestações iniciais. A maioria das pessoas têm evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves.
Até o momento, não há terapias específica para a febre oropouche. O tratamento apenas alivia os sintomas.
A recomendação da Sesab em casos suspeitos da doença é procurar o hospital Couto Maia, em Salvador.
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