A expectativa de vida do brasileiro ao nascer deve cair em até dois anos por causa das 190 mil mortes pela Covid-19 em 2020, segundo especialistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Desde 1940 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) só registrava aumento na expectativa de vida dos brasileiros, mas isso tende a mudar com o novo coronavírus.
No último levantamento do IBGE, divulgado em novembro, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de 76,6. Os especialistas estimam que a pandemia vai reverter a tendência de crescimento observada nas últimas décadas, com os nativos do Brasil perdendo pelo menos um ano de expectativa de vida. Dependendo da capacidade do governo de vacinar a população em 2021, essa queda pode, ainda, se perpetuar por mais um ano.
Em 1940, a expectativa era de que um brasileiro vivesse apenas 45,5 anos. O índice foi aumentando, chegando a 62,5 em 1980 e atingindo a 69,8 nos anos 2000. De acordo com o jornal Estadão, a expectativa atual de 76,6 poderia ser ainda mais alta se não fosse a violência urbana, que costuma vitimar homens jovens, já que as mulheres vivem em média 80,1 anos, contra 73,1 anos dos homens.
IMPACTO
“Historicamente, a cada três anos, nós ganhamos um ano de expectativa de vida ao nascer”, explica o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social. “Agora, vamos perder em um ano o que levamos seis anos para conseguir. Ou seja, não só vamos deixar de avançar como vamos também retroceder”, enfatizou.
Do ponto de vista demográfico, o impacto é muito grande, sobretudo porque 75% da letalidade da doença se concentra entre os idosos. “O número de mortos foi tão grande, foi uma quantidade tão desproporcional, que acabou tendo todo esse impacto na expectativa de vida. Este número, 190 mil, equivale a quatro vezes as taxas anuais de homicídios no Brasil, por isso tem esse efeito demográfico gigantesco”, detalha.
Outro retrocesso importante que deve se perpetuar, segundo os especialistas, diz respeito à educação. A desigualdade educacional que vinha caindo há pelo menos 40 anos voltou a subir durante a pandemia, por causa das dificuldades que muitos alunos tiveram, sobretudo os mais pobres, para estudar. “Entre os jovens de 6 a 15 anos, a média de estudo durante a pandemia foi de duas horas e dezoito minutos, muito abaixo das quatro horas mínimas exigidas pela LBDE (Lei de Diretrizes Básicas da Educação)”, afirma Neri.
“E a redução foi muito maior entre os alunos de escolas públicas, de renda mais baixa e das áreas mais remotas; no Pará, por exemplo 42% dos alunos não receberam material, não fizeram estudo remoto por falta de material. Isso reverte totalmente a tendência de redução de desigualdade educacional que vinha caindo há 40 anos”, conta.
A falta de internet para as aulas também contribui: estimativas de 2018 do IPEA apontam que cerca de 16% dos alunos do ensino fundamental (4,35 milhões) e 10% dos alunos do ensino médio (780 mil) não têm acesso à internet. De acordo com a reportagem, praticamente todos eles eram da rede pública.
Fonte/Aratu On
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